sexta-feira, março 30, 2012

Margin Call (2011)

"As pessoas não fazem ideia do que é que lhes está prestes a acontecer", diz a certa altura uma das personagens de "Margin Call", como se estivesse ciente de um ataque terrorista iminente. Baseado nos acontecimentos que antecederam a crise global financeira de 2008, o filme nomeado aos Óscares para Melhor Argumento Original mostra os bastidores de uma empresa de investimento de capitais de risco que, em pleno processo de despedimento colectivo, descobre que os mercados estão prestes a entrar em colapso. Naquelas que serão as vinte e quatro horas mais longas das suas vidas, importa agora trair todos aqueles que lhes confiaram o seu dinheiro e, mesmo sabendo que estarão a vender acções sem qualquer valor, enganar accionistas e investidores antes que a dura verdade seja descoberta e revelada. E, com isso, provocar e catapultar o desastre financeiro que, ainda hoje, dita o nosso presente e molda o nosso futuro.

Escrito e realizado pelo estreante J.C. Chandor, "Margin Call - O Dia Antes do Fim" conta com um dos mais interessantes e dinâmicos elencos dos últimos anos, num choque proveitoso de gerações onde a experiência de veteranos como Kevin Spacey, Jeremy Irons, Stanley Tucci ou Demi Moore traz algum cinismo ao entusiasmo de actores como Paul Bettany, Zachary Quinto ou Simon Baker. Numa obra onde não há heróis, apenas vilões, surge-nos um retrato tão corajoso quanto metódico, tão frio quanto intenso, tão abstracto como complexo de uma realidade que a maioria de nós tão mal conhece, mas que a todos nos afecta. Mais dramático do que propriamente didáctico, o ritmo calmo e a narrativa aberta de “Margin Call” pode não agradar a todos os cinéfilos; mas mesmo esses não terão problemas em admirar os trunfos técnicos e artísticos da fita, das panorâmicas de Manhattan aos jogos de luzes e sombras dos escritórios – a escuridão da noite vs a luz dos ecrãs -, sem esquecer o enfoque dado às reacções humanas e não a uma lista interminável de números em computadores.

Sem respeito nem pudor com conveniências sociais, Chandor traz-nos a sua visão de como o capitalismo corrompeu a afamada tradição do trabalho árduo em prol do sonho americano. Porque, diz-nos o filme, há três maneiras de ter sucesso hoje em dia: ser o primeiro, ser mais inteligente ou… fazer batota. E, com apenas três milhões e meio de dólares de orçamento, a batota de Chandor para chegar às bocas do mundo foi simples, honesta e indolor: ir buscar nomes grandes de outras décadas e oferecer-lhes os seus melhores papéis em vários anos. Haverá melhor cartão de visita?

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