quarta-feira, agosto 31, 2011

Duplos (I/V)


DUPLOS – QUANDO A FICÇÃO NECESSITA DE REALIDADES PERIGOSAS

É preciso coragem, determinação e um pouco de loucura para arriscar a vida pelo sucesso de uma cena de acção televisiva ou cinematográfica. Ainda para mais quando os créditos de todo aquele espectáculo acabarão por recair, para uma maioria considerável do público, nos intérpretes que dão cara a uma qualquer personagem e que, quase sempre, estão sentados numa cadeira a assistir a tudo. Quando tudo corre bem, o resultado final pode muito bem ser uma sequência audaciosa, com uma coreografia abismal. Quando dá para o torto, pode custar muitos ossos partidos e, por vezes, a própria vida. A Take decidiu explorar um pouco o passado, o presente e o futuro de uma indústria que corre o risco de perder o seu papel de uma vez por todas para os computadores e os efeitos especiais.

A LUTA CONTRA O CGI

As melhores cenas de acção – ou pelo menos, as mais leais – são aquelas cujo trabalho alucinado e vertiginoso dos duplos é obra e mérito completo deles, sem qualquer influência batoteira de gráficos de computador ou programas destinados para o efeito. Quando isso acontece, a coragem, a força física e a adrenalina dos envolvidos é sentida no seu esplendor pelo público, que sabe que valentes profissionais arriscaram a sua vida para, e perdoem-me a redundância, dar vida a cenas ousadas de heróis e vilões. Mas os tempos mudam e os espectadores tornam-se mais exigentes. Para triunfar, é preciso quebrar barreiras nunca antes quebradas e oferecer ao cinéfilo imagens nunca antes vistas. Antes da evolução tecnológica, haviam duplos a saltar de arranha-céus e a arriscar a vida pendurados em penhascos. Agora, o fundo verde e uma data de cabos resolvem o assunto de forma mais barata e com muito mais eficácia e segurança.

COMBATE FÍSICO

Mas nem tudo acabou para os duplos. A presença dos duplos continua a ser requisitada, talvez mais do que nunca, para os combates físicos. Sejam duelos de espadas, de fogo ou de punhos, a expertise destes homens e mulheres, muitos deles com experiência em diversas artes marciais, é fulcral para que as imagens não pareçam falsas. Aqui, os únicos efeitos especiais na maior parte dos casos envolvem a criação de efeitos particulares como sons próprios da interacção física entre personagens ou objectos – duas espadas a chocarem, por exemplo. Com coreografias exaustivas e trabalhadas ao pormenor, preparar um actor ou uma actriz para uma cena de combate de poucos minutos duraria semanas, senão meses. Com os duplos, tudo é mais fácil: os riscos de algo correr mal são menores, os seguros são consideravelmente mais baixos e a experiência destes permite uma adaptação muito mais rápida e eficaz aos métodos pretendidos

Continua...

Artigo publicado na Take 17.

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