segunda-feira, março 10, 2008

Juno (2007)

Juno MacGuff é uma jovem adolescente virtuosa, exemplo maior de uma filosofia Pop moderna intelectual, com respostas lacónicas e mordazes sempre preparadas para qualquer situação com que se depare. No entanto, e como qualquer outra rapariga da sua idade, não contava engravidar aos dezasseis, ainda para mais fruto de uma noite sem exemplo com o seu colega de escola Paulie Bleeker, o rapaz que põe desodorizante nas pernas e passa a vida a mastigar tic-tacs laranjas. Com a ajuda de uma amiga, a protecção dos pais e um nível de maturidade fora do comum, Juno vai ser a personificação meticulosa – apesar de algo fantasista – da desdramatização simpática e inteligente de uma vicissitude que atinge milhares de adolescentes em todos os cantos do mundo.

Juno”, o filme, é uma maravilhosa combinação entre um elenco sublime, devidamente comandado por uma Ellen Page formidável, um jovem e promissor realizador, talhado para explorar de forma encantadora as suas personagens, tal como já o havia feito em “Obrigado por Fumar”, e de um argumento descontraído que fixa o seu engenho em articular diálogos curtos e deslumbrantes com um harmonioso fluir cómico-dramático amadurecido e prudente, a exemplo da heroína que representa no final da narrativa. Tudo envolto numa banda sonora ingénua e memorável, escolhida a dedo segundo os pressupostos independentes da obra, e que conferem a “Juno” uma singeleza, charme e espontaneidade arrasadoras. De tal modo que, a certo momento da fita, torna-se impossível conseguir resistir à autenticidade e encanto de Page e, também, porque não, de Michael Cera.

No final, fica a clara sensação de que fomos presenteados com um filme detentor de um coração enorme e de uma alma arrebatadora. Tudo sem falsas idiossincrasias, lamechices pegadas que ajudem a comover o espectador ou conjunturas idiotas que despertem a gargalhada fácil. Uma simplicidade extravagante que transcende os géneros em que se apoia sem nunca perder um pingo de coerência durante pouco mais de hora e meia. Uma história como tantas outras, mas narrada de uma forma singular e estranha – no bom sentido -, que acabou por transformar “Juno” num dos filmes mais rentáveis em termos de custo-proveito dos últimos anos e num dos favoritos da crítica e do público para todos os galardões para os quais o filme de Jason Reitman foi nomeado. Assim sendo, falta só mesmo prestar uma palavra de apreço a Jennifer Garner, que alcança aqui a melhor performance da sua carreira. Só que com Ellen Page a resplandecer desta maneira, Garner, Bateman, Cera ou mesmo o mítico J.K. Simmons passam inevitavelmente para segundo plano.

14 comentários:

Anónimo disse...

Curiosamente também postei sobre ele hoje... e embora tenha gostado não o acho assim tão refrescante, não tem nada que outros filmes indie não tenham já mostrado antes (e muitas vezes melhor).
Abraço

Anónimo disse...

Concordo em absoluto Gonn! Sinceramente não achei este filme nada de especial. É certo que Page está "bem" no papel, mas elevar este filme a "arrebatador" é dar-lhe uma relevância que ele não tem enquanto filme. A ideia não é nova, nem transmitiu nada de novo. Enfim... Mas se calhar quem está errado sou eu... afinal de contas até foi nomeado para oscar! Um grande abraço!

Cataclismo Cerebral disse...

Gostei do filme, mas continuo a achar que foi muito sobrevalorizado.

Abraço

José Quintela Soares disse...

Por vezes...uma excelente campanha de lançamento comercial ajuda muito....

André disse...

Eu junto-me aos que gostaram muito. Ellen Page enche o ecrã...

Carlos M. Reis disse...

Gonn1000, Ricardo, Cataclismo e José, isto cada um é como cada qual ;) A mim, saí mais do que satisfeito da sala de cinema. Soube-me muito bem. Está longe de ser uma obra-prima, mas é um filme muito, muito, mas mesmo muito, simpático. Cumprimentos!

André ;) Um abraço!

Anónimo disse...

Gostei bastante.
A rapariga tem talento, mas o resto do elenco também esteve muito bem.
O Oscar para a ex-stripper, foi justo, conseguiu manter o equilibrio entre a credibildade da história, e das personagens, sem exagerar nos sentimentos, e nas reacções.
É verdade que existem outros filmes Indies, parecidos, com piada, com alguma qualidade, mas normalmente têm a tendência para o exagero na dramatização, coisa que neste não aconteceu.
Além dos dialogos da Juno, gostei particularmente, da diferença no discurso do pai, e da madrasta, com a filha a ouvir, e sem a filha a ouvir, muito bem conseguido, mais uma vez, bastante credivel...
Uma referência ao Cera, que recentemente vi em outros filmes, o rapaz parece que também tem futuro, com uma excelente presença em camara, e com um estilo distinto...

Carlos M. Reis disse...

Abidos, concordo em quase tudo. Mas quanto ao Cera... tem estado muito bem mas parece-me actor de um só papel, que se ramifica aqui ou ali, consoante o argumento. Vamos ver, no futuro, como é que se dá. Cumprimentos, volta sempre ;)

Marta disse...

Juno é realmente um excelente filme. Um argumento simples, com diálogos muito bem escritos. É muito interessante o jogo comédia-drama. E indiscutivelmente Ellen Page é soberba, todas as suas falas são absolutamente deliciosas!
Outra coisa a destacar é a banda sonora, muito muito boa.

Carlos M. Reis disse...

Game, Set, Match ;) Cumprimentos Marta.

Silvia disse...

"A pessoa certa continuará a ver raios de sol sair-te pelo rabo. Esse é o tipo de pessoa com quem vale a pena ficar"

Ainda não tive tempo para dissertar sobre este!

Carlos M. Reis disse...

Delicious, isn't it? ;)

Anónimo disse...

Vou estragar completamente a minha reputação de "coração-de-pedra-que-não-chora-no-Grey's-Anatomy-e-só-chora-no-The-Shield", mas tenho de admitir que saí do cinema quase com lágrimas nos olhos de tão lindo que este filme é.

Se é sobrevalorizado, se merece prémios, se traz alguma coisa de novo ao cinema não sei - só sei que por vezes precisamos de uma história assim: simples, divertida, ficcionalizada, exagerada, comovente e completamente tocante.

"I don't see what anyone can see, in anyone else."

Carlos M. Reis disse...

;) Join the club! Apesar de com Juno ter saído com um sorriso enorme do cinema, invés das lágrimas. O raio do filme deixou-me muito bem disposto mesmo, cheio de vontade de ir comprar logo a banda sonora. Beijinhos ;)

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