sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Bowling for Columbine (2002)

Vivem-se tempos conturbados em todo o Mundo e as decisões tomadas nos EUA, enquanto maior potência militar e económica no nosso planeta, afectam não só a sua população mas também todas as outras à escala global. Galardoado com o Óscar na categoria de Melhor Documentário em 2002, bem como com o César de Melhor Filme Estrangeiro, “Bowling for Columbine” foi ao mesmo tempo aplaudido tanto pela crítica, como pelo público em geral, abordando e investigando o fascínio dos americanos pelas armas de fogo.

Michael Moore, director e narrador do filme, questiona a origem dessa cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. Entre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbine, local onde os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram em armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório. Moore faz ainda uma visita ao actor Charlton Heston, presidente da National Rifle Association (Associação Nacional de Espingardas).

Um dos temas centrais de Bowling for Columbine envolve esta mesma associação, e a sua influência na legislação existente no que concerne ao porte de armas em território americano. A NRA foi criada em Nova Yorque, no ano de 1871 e é considerada por muitos como o mais poderoso organismo americano, sendo referida diversas vezes pelos seus membros como a mais antiga organização de direitos civis dos EUA, definindo na Constituição Americana a licença de porte de arma como um direito civil. Esta associação é considerada por muitos com sendo um dos mais influentes lobbies nos EUA devido à sua capacidade de entregar um número considerável de votos nos diversos actos eleitorais. Algumas pessoas atribuem mesmo crédito à NRA pela forte campanha levada a cabo nos estados do Arkansas e do Tennessee nas semanas que precederam as eleições presidenciais em 2000, que acreditam ter levado o candidato democrata Al Gore a perder as eleições nesses mesmos estados. Esta ideia é fortalecida por diversos discursos proferidos pelo ex-presidente Bill Clinton, que tinha ganho os dois estados nas suas corridas vitoriosas à Casa Branca em 1992 e 1996, em que refere que a NRA alertou a população de que uma vitória do candidato democrata significaria que as suas armas lhes seriam tiradas.

Diversas sondagens efectuadas na população americana sugerem que a maioria defende uma maior rigidez nas leis respeitantes ao manuseio e licenças de porte de armas, tendo-se vindo a verificar a criação de nova legislação nesse sentido em diversas regiões do país, sendo estas sempre fortemente contestadas pela NRA e os seus apoiantes. Essas leis variam desde a quase total proibição do porte de armas, como por exemplo em Washington, até à quase liberalização completa de diversas classes de armas de fogo em diversos estados, chegando mesmo a nível Federal. A NRA, perante esta nova legislação, contrapõe com o reforço na aplicação das leis existentes que proíbem pessoas condenadas e criminosos violentos de serem portadoras de armas, bem como a extensão das sentenças nos crimes relacionados com o uso de armas.

Na sua constante luta neste lobby pelos direitos de armas, a NRA defende que a Segunda Emenda garante o direito ao cidadão comum de posse e manuseio de armas de fogo, "right to keep and bear arms", bem como o direito à privacidade desses mesmos cidadãos. Alguns críticos da associação referem que o conteúdo da Segunda Emenda são restos de uma época dirigida por revolucionários que não faz sentido nos dias que correm, especialmente com o actual estado da tecnologia utilizada nas armas que os percursores da Segunda Emenda nunca poderiam ter imaginado na altura da sua criação. No entanto, algumas críticas direccionadas a este organismo vêm de defensores de que o uso e licença de porte de armas de fogo é um direito absoluto, que argumentam que o apoio dado pela NRA a algumas leis neste contexto vão contra esse direito, ou seja, de certa forma esta estará a agir contra os seus próprios princípios.

Michale Moore, é, por assim dizer, um “justiceiro”, que assalta os malfeitores com uma camerâ e os enfrenta destemidamente, num fascinante modo, que quebra todas as barreiras, politicamente correctas e que avança com informações potencialmente chocantes sobre o comércio de armas nos Estados Unidos. É ainda um estudo devastador e cáustico sobre a cultura do medo que aterroriza toda uma nação e que intencionalmente descrimina toda a raça negra, comandada pelos meios de comunicação social, num estilo de transmissão de mensagens semelhante a uma propaganda nazi, devidamente situada.

“Bowling for Columbine” é assim uma obra que toca em vários pontos fracos da sociedade e democracia americana, num estilo sensacionalista, popular e ao contrário do que seria aceitável, parcial. Mas, nada aqui é fictício, e tudo aquilo que vemos é a vida real, mesmo se pela percepção de Moore. E o grande mérito deste é não cair em simplismos e facilitismos, e atribuir a culpa da violência americana ao cinema ou aos video-jogos. Porque só se dispara sobre alguém se tivermos uma pistola nas nossas mãos.

Um filme divertido, empenhado, polémico, corajoso e original, em que não é necessário ter as convicções políticas do realizador, nem acreditar nas suas teses para o apreciar. E isso é uma enorme qualidade.



Nota de Redacção: Informação e excerto do artigo sobre a NRA retirado da Wikipédia.
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