segunda-feira, janeiro 31, 2005

Zatoichi (2003)

Cada novo filme de Takeshi Kitano parece mais anti-convencional do que o precedente e "Zatoichi" não foge à regra, antes pelo contrário, pois misturar "tap dancing" à Gregory Hines no Japão do séc.XIX, ou ver um grupo de camponeses em exercício de percussão ao jeito de "Singing in the Rain", não lembraria a nenhum dos cineastas japoneses mais ortodoxos, a começar por Kurosawa. Mas aquilo que daria borrasca com outro realizador (actor), com Kitano é imediatamente perdoável (funciona mesmo como uma espécie de Eastwood em versão oriental), e é isso que acontece em "Zatoichi", mesmo que neste caso, tenha introduzido variantes consideráveis (diz quem sabe) na personagem mítica do "massagista-justiceiro solitário", pintando-lhe o cabelo de loiro, etc. É que no cinema de Kitano há uma pujança e uma sinceridade tão genuínas que rapidamente acabamos por aceitar o desafio e embarcamos nos seus filmes, mesmo que às vezes nada nos queira transmitir, e sejam colagens inconsequentes de"sketches" ou exercícios de pretensiosismo formal. Que interessa isso, se o cinema de Kitano é arrebatador?

"Zatoichi" tem tanto de sangue a jorrar ao melhor jeito dos "westerns"de Corbucci & Cia., como de humor socialmente corrosivo (as gueixas que não o são, o espantalho como ídolo fálico, etc.). Mesmo que o ambiente lembre as tragédias épicas de Kurosawa, as personagens que habitam "Zatoichi" são os aldeões explorados até ao tutano, das pradarias americanas. E o justiceiro solitário continua a ser o seu vingador, de preferência em duelo com o "ronin" de serviço. É a originalidade de Kitano que nunca deixa ninguém indiferente.

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